A diversidade é, de fato, uma característica do grupo de Fulbrighters que está em doutorado sanduíche neste momento. Embora todos sejamos pesquisadores das Humanidades, pertencemos a cursos e universidades variados no Brasil, nossos temas de investigação são diversificados e estamos espalhados por diferentes cidades e instituições nos Estados Unidos. A logística a partir da qual cada um organizou seu intercâmbio também foi muito particular: alguns preferiram residir sozinhos, outros optaram por moradias compartilhadas; alguns viajaram sós, outros acompanhados.
Eu me mudei para Nova York não só com meu marido, mas com nossos dois gatos de apartamento: o Pacífico, que já está conosco há três anos e sempre esteve nos planos de nos acompanhar e o Ventania, nossa bagagem extra (rs), já que o resgatamos da rua com sessenta dias de vida, semimorto, poucos meses antes de embarcarmos – agora ele vai muito bem, obrigada :) Neste
post, eu gostaria de falar sobre essa experiência de viajar em boa companhia, na forma de algumas dicas para outros que no futuro venham a vivenciar situações parecidas.
A primeira boa notícia é que, uma vez aprovado no edital de doutorado sanduíche, todo bolsista que planeje viajar com dependentes vai receber suporte integral da Fulbright tanto para providenciar, quanto para custear o visto de esposos e/ou filhos. Mas há dois pré-requisitos. Primeiro, é preciso que seu companheiro seja também seu cônjuge – sim, uso essa palavra sisuda para dizer que é imprescindível ser oficialmente casado. Segundo, será necessária uma prova financeira, conforme montante indicado pela Fulbright, de que seus dependentes terão recursos de apoio durante o período nos Estados Unidos. Para isso, o casal pode apresentar extratos bancários de economias próprias ou de terceiros.
Quanto a viajar com animais, bem, as despesas são por tua conta! Mas há algo muito valioso que a
network da Fulbright pode oferecer: antes da minha partida, a Comissão no Brasil me ofertou o contato virtual de outros bolsistas, de editais variados, que já tinham ido ou estavam indo com seus
pets para os Estados Unidos. Pudemos compartilhar informações e também dividir nossas ansiedades sobre embarcar com os bichanos. Quando você anuncia que pretende morar no exterior temporariamente com seus animais, esteja certo de que vai ouvir muitas opiniões e diversas delas serão coerentes, tanto a favor, quanto contra. Minha opinião é que se trata de uma decisão muito pessoal que, sobretudo, deve ser muito responsável em relação ao bem-estar dos bichinhos.
Pois bem, no caso de
viagem com marido ou esposa, considere em seu
checklist que:
1. Seu cônjuge vai precisar de um seguro saúde. Embora ninguém seja obrigado ter um para entrar nos Estados Unidos, o bolsista vai se comprometer a providenciar isso para os dependentes ao assinar o termo de compromisso com a Fulbright, tendo em vista que o sistema de saúde norte-americano é completamente privado e você pode acabar literalmente na rua da amargura se ficar doente sem seguro;
2. Seu cônjuge terá um tipo de visto que o permite trabalhar nos Estados Unidos, mas é possível solicitar a permissão somente depois do ingresso no país e é necessário aguardar por até 90 dias pela chegada. Todas as informações sobre isso estão no site do
U.S. Citizenship and Immigration Services;
3. Seu cônjuge pode estudar inglês, enquanto você está enlouquecido entre aulas, livros mil, seminários,
refreshments, entre outras coisinhas. A rede de bibliotecas da cidade de Nova York, por exemplo, oferece gratuitamente cursos intensivos de inglês para estrangeiros;
4. Seu cônjuge pode te acompanhar em eventos na sua universidade, já que diversos deles são abertos ao público;
5. Não esqueçam de levar a certidão de casamento original. Embora, em tese, nossos documentos brasileiros não tenham validade nos Estados Unidos, eu e meu marido precisamos de nossa certidão, por exemplo, para requisitar nossos
ID Cards na cidade de Nova York.
No caso de
viagem com pets, de modo especial com gatos, tenha em mente que:
1. Os Estados Unidos estão entre os países com menos exigências para o ingresso com animais domésticos. Todos os requisitos você encontra nos sites do
Ministério da Agricultura do Brasil e do
U.S. Department of Agriculture;
2. Cada companhia aérea tem suas próprias normas para o trânsito de
pets. Algumas permitem a viagem na cabine, outras apenas no porão. Nesse segundo caso, fique calmo: os animais não vão balançando no escuro com as malas! Eles têm um compartimento especial, adequadamente oxigenado e iluminado – você paga por isso. Se seu aéreo incluir mais de uma companhia, lembre-se de que imperam sempre as regras mais restritivas, para não haver nenhum impedimento durante o trajeto;
3. Levar com você seus bichanos significa ter mais trabalho na busca por moradia. Nem todos os locais aceitam
pets e nem todos têm um tamanho adequado para a vida cotidiana deles. Ou seja, não dá pra ser algo nem muito pequeno, mas também nem muito grande, porque o preço pode ir lá em cima a depender da cidade. No caso de gatos, preste atenção se há janelas disponíveis – não para eles saírem, mas pra apreciarem uma vista! Também é importante “catificar” o ambiente, por exemplo, com caixas de papelão para eles satisfazerem a vontade irresistível de arranhar e não gerarem avarias no imóvel;
4. É bastante recomendável que os animais sejam castrados. Um mês antes ao menos, você deve administrar as vacinas e os antiparasitários. E nos dez dias que antecedem a viagem, é necessário um exame clínico para o veterinário emitir um atestado de saúde, com o qual você irá conseguir o certificado internacional de viagem. Importante lembrar que, no retorno ao Brasil, é preciso efetuar o mesmo procedimento para reingresso no país;
5. Uma vez nos Estados Unidos, paciência, atenção e carinho são ingredientes essenciais para ajudar na adaptação dos bichinhos. Eles estranham um pouco a casa nova, as mudanças na rotina, a comida diferente, mas em pouco tempo tudo se acomoda. A grande notícia é que os Estados Unidos têm um mercado fabuloso para
pets, então não faltarão opções de rações, sachês,
snacks e brinquedinhos.
Se vale a pena todo esse empenho? O para sempre saudoso Ferreira Gullar tem um poema chamado
“O ronron do gatinho”. Como explica o poeta, o ronron é o barulhinho emitido por um motorzinho que os gatos têm. Não é um motor elétrico, é um motor afetivo, com o qual esses animais expressam amor e gratidão. É uma das sintonias sonoras mais incríveis que existem. E é assim, cercada de aconchego dos meus gatinhos e também do meu marido, é claro, que eu recarrego as energias para a vida de todo dia por aqui.