segunda-feira, 22 de maio de 2017

O impacto do programa Fulbright: uma escolha acadêmica, mas com consequências que vão muito além

Gateway orientation em Miami

Quando eu escolhi me candidatar para a bolsa de doutorado sanduíche da Fulbright em parceria com a CAPES minha motivação era essencialmente acadêmica. A principio eu não conhecia a Fulbright como um dos mais antigos e prestigiados programas da diplomacia Americana e tampouco tinha uma afinidade cultural em particular com o país do Tio Sam ou um grande sonho de conhecer o território. O valor da bolsa era interessante, os Estados Unidos são um país de referência no meu campo de estudos – que é a Ciência Politica - e eu preenchia todos os requisitos solicitados para participar do processo seletivo. Imagino que muitos candidatos possuam essa motivação principal, o que é perfeitamente normal e compreensível.

Treinamento dos "Global Guiders", participantes do programa Global Classroom


Agora, ao final do meu programa, tenho a convicção de que uma experiência enquanto Fulbrighter vai muito além da academia, mesmo que sua escolha inicialmente se baseie nesse critério. Pode parecer clichê ou mesmo propagandístico, mas eu voltarei para casa muito mais madura. Não só no que se refere a minha pesquisa de doutorado (aprendi muito e também passei por muitos desafios!) – que na verdade acho que muitos Fulbrighters retornam com o desejo de terem avançado ainda mais nesse ponto – mas principalmente voltarei mais madura em termos da minha vida pessoal, dos meus planos e ações para o futuro.

Encontro com o proprietário da empresa financeira Lion Point


Através da Fulbright participei de vários eventos além da academia, muitos deles sem nenhuma conexão direta com o meu tema de pesquisa. E isso foi muito bom! A Fulbright designa organizações regionais (Fulbright chapters) responsáveis por organizar atividades e fornecer apoio aos intercambistas. Muitas atividades em que participei foram organizadas por essa associação, que na região de Nova York chama-se One to World. Alguns dos exemplos de atividades em que participei foram: conversas com personalidades importantes (um conselheiro sênior da Morgan Stanley, um ex-congressista americano e uma presidente de uma das maiores empresas de comunicação e marketing – a Edelman), momentos casuais de intercâmbio cultural com uma família americana, durante a celebração do Thanksgiving; e (meu preferido!) conduzi alguns workshops sobre minha cultura e sobre temas internacionais em escolhas publicas de Nova York! Realmente inesquecível! Esse programa se chama Global Classroom e permite que os bolsistas da Fulbright entrem na sala de aula e estabeleçam uma conexão única com os alunos locais através de discussões sobre temas globais, como o meio ambiente, os direitos das mulheres ou conflitos. 

Global Classroom no Brooklyn


Além disso tudo, o Instituto de Educação Internacional, que administra a Fulbright, organiza alguns eventos ao longo do ano para promover o networking entre os Fulbrighters e ampliar nosso contato com a cultura americana, através de trabalho voluntário, visitas a outras cidades e discussões sobre temas relevantes na sociedade dos EUA. Eu participei do Gateway, uma orientação precedente ao inicio do meu intercâmbio, que foi em Miami. E também do Enrichment Seminar, um seminário temático com uma agenda completa e dinâmica, trocas com outros Fulbrighters e visitas, que aconteceu mais ao final do meu período de intercâmbio.

Enrichment Seminar em Washington, DC 



Tudo isso para dizer que, se eu escolhi a Fulbright por motivos acadêmicos, voltarei ao Brasil com experiências ricas e diversas que vão muito além da minha pesquisa e que me abriram horizontes novos, tanto para a minha carreira quanto para minha vida pessoal, em relação ao papel que eu quero desempenhar na nossa sociedade. Vou voltar motivada e segura de que estou fazendo um bom trabalho, de que estou no caminho certo e, o mais importante, que nem tudo o que você faz tem que ser sua pesquisa! As experiências que vivi nos Estados Unidos através da Fulbright abriram minha cabeça e me fizeram ter outra interpretação sobre liderança, sobre ação e impacto na sociedade civil e também uma visão muito mais critica e autônoma sobre o mundo. A Fulbright nos conecta com muitas pessoas brilhantes, especiais e importante ao redor do globo. Também nos faz compreender que temos um papel em nossas comunidades muito maior do que nossa pesquisa pode sugerir. Para mim foi uma experiência de muito aprendizado, conexões, reflexões e criticas. Mas, principalmente, de amadurecimento, responsabilidade, ambições e sonhos. Estou retornando, mas para mim é apenas o começo! 

sábado, 20 de maio de 2017

Sempre tem um Fulbrighter perto de você

Enquanto escrevo estas linhas certamente vários Fulbrighters no Brasil estão a mil por hora com os preparativos para concretizar seu tempo de estudos no exterior. É um período de muita dedicação, responsabilidade, tensão, ansiedade e expectativa. Nem sempre todos ao nosso redor compreendem tudo o que está em jogo –  e isso é normal. Então, bom demais é quando a gente começa entrar em contato com outros Fulbrighters na mesma situação e, claro, muito dispostos a conversar a respeito.


Confraternização - Pre-Departure Orientation -  São Paulo, julho 2016

A notícia boa é que essa rede de apoio tem tudo para aumentar após a chegada nos Estados Unidos. Neste post, a partir da minha experiência em Nova York, quero reunir algumas dicas sobre canais que o Programa Fulbright oferta para fomentar conexões entre seus bolsistas. A ideia disso tudo não é apenas estreitar vínculos acadêmicos entre profissionais de diferentes áreas do conhecimento, mas promover o encontro entre culturas e entre pessoas. 

Uma primeira dica é procurar, na cidade onde você estiver, uma associação de alumni do Programa Fulbright – isso se eles não te acharem primeiro! Essas entidades promovem eventos culturais e acadêmicos dos mais diversos, onde Fulbrighters veteranos e novatos se encontram para trocar experiências, bem como aproveitar coisas bacanas que uma cidade pode oferecer. 

Aqui em Nova York, por exemplo, tive a oportunidade de apresentar um pouco da minha pesquisa em um Open Salon promovido pela associação de alumni, junto de duas outras Fulbrighters: uma antropóloga visitante da Índia e uma artista plástica dos Estados Unidos, que tinha feito seu intercâmbio na Itália. Nesse tipo de evento, a galera comparece para debater e confraternizar, em meio à gente interessante, vinho e snacks. 



Ao chegar nos Estados Unidos, a relação institucional com a Comissão Fulbright Brasil se insere num novo escopo: aqui os bolsistas são apresentados ao IIE - Institute of International Education, do qual o Programa Fulbright faz parte. A sede do IIE fica em Nova York e nela existe um escritório de eventos culturais, que recebe tickets de uma série de espetáculos em cartaz na cidade, para serem distribuídos gratuitamente entre os bolsistas. 

Assim, se você está em Nova York e redondezas, basta preencher um cadastro e, pronto, você começa a receber e-mails com as oportunidades culturais, que quase sempre contemplam o bolsista e um ou dois convidados. Bem, nesses eventos, nem é preciso dizer que você cruzará com muitos outros Fulbrighters do mundo todo. 

Ainda em Nova York e proximidades, o Programa Fulbright possui uma organização parceira chamada One to World, cuja tarefa é, basicamente, não permitir que nenhum Fulbrighter fique sozinho! Além de eventos culturais, gastronômicos e profissionais, essa entidade proporciona várias oportunidades de serviços comunitários e de excursões para outras cidades. Tudo isso é ofertado gratuitamente ou a preços módicos. 

Por intermédio dessa organização, por exemplo, tive a chance de ir, com um grande grupo de Fulbrighters à MET Opera, assistir a uma montagem moderna do espetáculo “La Traviata”, de Verdi. Depois, seguimos para um almoço num restaurante chinês que, em duas mesas, reuniu Fulbrighters do Brasil, do Egito, da Indonésia, da Polônia, da Rússia, da Itália, da Holanda e de outros países que minha memória não consegue dar conta agora, porque, sim, é muita gente de toda parte. 



Estou quase no fim da minha experiência e tenho certeza: ganhei conhecimento, melhorei meu inglês, vivenciei o dia a dia de uma cidade incrível e conheci pessoas que, cada qual com sua história e seus desafios para estar aqui, tornaram essa jornada nada solitária e, sobretudo, inspiradora para o que virá depois. 


National Center for Civil and Human Rights - March 2017 Atlanta Fulbright Enrichment Seminar