segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Alguns comentários sobre um primeiro mês nos Estados Unidos

O tempo passa rápido mesmo, e já que o edital para o Doutorado Sanduíche ainda está aberto para os candidatos 2017-18, achei interessante dividir alguns pontos importantes a serem levados em consideração por eventuais candidatos.

1 - O campus vai ser bonito! Sim, há grande probabilidade de o teu campus ser bonito. E o teu prédio também. O meu:

E me deram uma sala boa pra estudar e trabalhar em paz 
2 - Se tu acabares em uma cidade pequena/média como eu, que estou em Athens, Georgia, vai ter esses capitols tradicionais, com um jardinzinho florido e tal.

Athens City Hall
 3 - Mas antes de ir direto pra tua cidade, provavelmente a Fulbright vai te convidar para um Gateway, que é uma sessão de orientação em uma outra cidade, em outro estado longínquo. Aceita e vai, porque vai valer a pena: vai ter gente de todo o mundo, gente divertida e os lugares costumam ser bonitos e, de alguma forma, vibrantes (geralmente há esforço para que seja um lugar interessante mesmo!). É incrível! Experiência de vida mesmo!

E também já vai te ajudar a falar dos assuntos preferidos dos americanos: política e insetos. Estamos em ano de eleição (uma campanha super complicada), e quem aportar por aqui em 2017 vai pegar o resultado, então te prepara para ouvir e falar bastante sobre vários tópicos correntes na política dos EUA. Os insetos? Me surpreende que é o small talk preferido dos americanos, aparentemente. É legal pra quem chegar aqui que saiba tudo sobre a fauna de bichos de sua região no Brasil, e que saiba que vai chegar em outra região dos EUA e vai ter bugs gigantes, ou não vai ter bugs, ou enfim. É isso, insetos são importantes.

O meu Gateway foi em Reno, Nevada.
Na foto: os milhões de Fulbrighters e o Lake Tahoe

4 - É isso, agora tu chegou na tua cidade. Hora de se instalar.

"Nos EUA é tudo barato", "compra lá fora!", "vai ter uma pessoa na rua fantasiada de maçã te dando celular de graça", "o motorista de ônibus vai te pagar pra tu ir de LA a NY de ônibus, e vai te servir panquecas com champagne na viagem". Com certeza tu já ouviu tudo isso, e bom, é mentira. O custo de serviços como internet, transporte, luz, água são parecidos com os do Brasil.

Talvez as mercadorias sejam realmente um pouco mais baratas do que na América do Sul, mas não cai nessas de que tudo é baratíssimo por aqui. Convém pesquisar antes e comparar preços para coisas que realmente valem a pena (como computadores, instrumentos/equipamentos musicais, etc.).

Enfim, daí tu precisa te arranjar na vida e ir atrás dos compráveis. E o que segue é este grande patrimônio cultural dos EUA (consideraria ser tombado pela UNESCO, não sei como ainda não fizeram isso): o estacionamentão.

American beauty

5 - E por fim, algo muito importante. Sou um pedestre, e o dicionário já nos mostra muito bem o que os americanos pensam de nós.

Sim, é a número 4
Por isso, caso tu não tenha carro, não queira ter carro (olha a propaganda de carro ali na entrada do pedestrian no dicionário, hein?), olha bem onde morar! Acesso a frutas e verduras nos EUA é bem mais restrito em geral do que no Brasil. Os americanos inclusive tendem a ser apaixonados por suas redes de supermercado favoritas. Então atenção com isso! E também com o transporte público, que em muitas cidades é praticamente inexistente.


É isso, que venham os outros 9 meses! 

Por: Lauro Iglesias Quadrado

sábado, 17 de setembro de 2016

Nova York: um amor à primeira vista


Sinceramente, é muito difícil não se apaixonar por Nova York! Estou por aqui há um mês e todos os dias tenho uma surpresa agradável pela frente: a estrutura incrível da universidade, cada bairro da cidade mais lindo que o outro; skylines maravilhosas; eventos, festivais e apresentações gratuitas nos parques e espaços públicos; pessoas respeitosas, autênticas e descoladas. Em uma palavra: modernidade! A minha impressão por aqui é essa mesma, de que os Estados Unidos são, de fato, um país moderno, onde o indivíduo é respeitado em todas as suas formas, onde a liberdade individual é um princípio fundamental e consolidado; e onde a grande maioria das coisas existe por pura utilidade prática! As coisas funcionam! Tudo é rápido e prático, acessível, útil. 



Para começar, New York City é uma das únicas cidades no mundo onde o metrô funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. O território é constituído por ilhas, mas é completamente interligado pelo transporte público. Ok, Nova York não é necessariamente representativa dos Estados Unidos, por isso, as minhas impressões ficam restritas à big apple, aprecie com moderações!

Além do transporte público, fiquei impressionada com a estrutura e a qualidade da universidade que está me recebendo como Visiting Academic: a New York University. Uma das bibliotecas da NYU tem nada menos do que 12 andares, mais de 12.000 exemplares, além de coleções impressionantes de periódicos acadêmicos, bases de dados, documentos governamentais, arquivos históricos, mídias, livros online e softwares. Alguns andares dessa que é uma das maiores bibliotecas de pesquisa do país podem ser acessados pelos alunos durante 24 horas ao dia. Ademais, a instituição oferece softwares gratuitos (como o ArcGIS, Stata, SPSS, etc), cursos sobre como utilizar essas e outras ferramentas, tutoriais, guias e profissionais prontos para auxiliar em pesquisas e bases de dados específicas: amazing! O prédio dispõe de várias salas –individuais e coletivas – de estudo, computadores e laptops disponíveis para empréstimo e equipamento de impressão, digitalização e mídia. Até mesmo um estúdio de música tem ali dentro! Incrível, né? Também achei muito interessante o fato de a biblioteca da NYU participar de um Consórcio com outras bibliotecas, dentre elas a New School, a Universidade de Columbia e a Cooper Union. Isso significa que os alunos da NYU podem acessar a biblioteca e o material dessas outras universidades e vice-versa.


Nessas horas fica evidente como é difícil um acadêmico brasileiro competir com um pesquisador norte-americano. Tudo bem que o modelo de educação é bastante diferente: nos Estados Unidos tudo se paga e, para ter acesso a uma educação superior do nível da NYU se paga muito caro! Mas, sinceramente, o preço vale. Além da estrutura de pesquisa gigantesca, de todas as ferramentas disponíveis ao estudante, os professores costumam transitar entre o mercado de trabalho e a academia – o que lhes garante uma experiência prática e uma contribuição para além dos muros da universidade invejáveis. Claro, de uma forma geral, a pesquisa e o conhecimento são extremamente reconhecidos, valorizados e recompensados. A universidade não se resume às aulas: tem sempre alguma coisa interessante acontecendo por ai. Que seja um debate sobre as eleições presidenciais, uma exposição de arte ou a exibição de um documentário, a vida acadêmica é dinâmica e interdisciplinar. As oportunidades são simplesmente incríveis! A instituição oferece inúmeros clubes temáticos, estrutura esportiva, salas de espetáculos, cultura, oportunidades de voluntariado, grupos de conversação em língua estrangeira, plataforma de carreiras e ofertas de trabalho, palestras, etc, etc, etc!



A segurança tem sido outro ponto forte de Nova York, na minha opinião. A maioria dos bairros é bastante tranquila à noite, o comércio funciona até tarde, é raro não encontrar outras pessoas na rua e pode-se pegar o metrô ou caminhar nas principais avenidas sem nenhum problema. De forma geral, sinto-me muito segura como uma mulher em uma cidade grande. Não senti medo em nenhum momento até agora, não passei por situações de constrangimento ou desconforto. As mulheres podem sair com a roupa que quiserem e não é por isso que vão infernizá-las por ai. Outra história... 

A diversidade é outro aspecto que me chamou muita atenção aqui em NYC. Tem gente de todos os cantos do mundo, das mais variadas culturas, religiões, etnias, origens. É realmente um melting pot! Ainda que existam bairros onde uma determinada comunidade é predominante, é tudo muito misturado. Em uma sala de aula pode-se facilmente ter 80% dos alunos vindos de países que não os Estados Unidos. A minha impressão é de que a diferença é algo valorizado e não algo que deva ser anulado ou escondido. 

Contudo, apesar de ser a cidade mais populosa dos Estados Unidos, com número de habitantes superior a 8 milhões, uma área de mais de 1.000 km² e um dos maiores centros internacionais, financeiros, culturais e políticos do mundo, Nova York sabe nos fazer sentir em casa como nenhuma outra cidade que eu já vivi! Primeiro, pela própria diversidade que é formadora desse lugar. Não importa de onde você veio, ou para onde você vai. Não importa o seu sotaque quando você fala inglês. Nova York vai recebê-lo como poucas cidades no mundo, vai recebê-lo como uma peça única e fazê-lo se sentir parte da engrenagem que mobiliza esse lugar. Segundo, porque mesmo que a cidade seja bem grande e movimentada, cada neighborhood tem suas características muito próprias, sua comunidade, seu comércio, seu estilo e seu cotidiano mais restrito. Isso faz com que o bairro seja equivalente a uma pequena cidade, na verdade, com toda a tranquilidade e a mobilidade de uma localidade do interior. Terceiro, porque Nova York é feita de indivíduos únicos, autênticos e livres, que se permitem viver das mais variadas formas, sem serem julgados, sem julgarem os outros. Indivíduos que se descobrem no meio da multidão, que se permitem viver da maneira como bem entenderem, mudar, permanecer, sentir, se expressar, criar, inovar, curtir... enfim, viver... Ainda que tenham total consciência da coletividade, da vida em comunidade e do respeito ao bem público. Essas e outras coisas fazem de Nova York uma das cidades mais impressionantes e queridas do mundo! É realmente muito difícil não amar esse lugar...

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Hora de começar a suar a camisa: aberta seleção para Sanduíche nos EUA



Até o dia 17 de outubro de 2016 estão abertas as inscrições do processo seletivo para Doutorado Sanduíche nos Estados Unidos da Comissão Fulbright Brasil. Foi a partir da candidatura a esse edital no ano passado que a jornada dos 25 Fulwriters desse blog teve início. A seleção da Fulbright guarda semelhanças com outros processos para obtenção de bolsas para doutorado sanduíche, entretanto, possui especificidades que são o que eu gostaria de destacar nesse post para quem está pensando em se inscrever.

Uma primeira particularidade está no público-alvo e no país de destino: trata-se de uma iniciativa voltada exclusivamente a doutorandos em ciências sociais, humanidades, letras, literatura e artes para estudos em universidades norte-americanas.

Outra singularidade aparece na interface com a língua inglesa, intensa desde o começo da candidatura. Todos os interessados em concorrer precisam alcançar um score mínimo no Toefl Test e uma boa dica para prestar esse exame sem custos é procurar o programa Idioma Sem Fronteiras nas universidades públicas. O edital também demanda um projeto de pesquisa breve, mas que deve ser apresentado todo em inglês.

Depois de reunir os documentos descritos pelo edital, estes devem ser submetidos em uma plataforma on-line da Fulbright. Mas quem dera fosse apenas anexar os arquivos e pronto! Não, não. É um formulário detalhado no qual, além de inserir seus documentos, você terá de preencher uma série de outros campos acerca da sua biografia acadêmica, com respostas de algumas linhas até pequenas redações. Tudo isso em inglês.

Minha sugestão é não tentar concluir o formulário logo de cara: parece-me que o melhor caminho é fazer uma leitura atenta dele, elaborar todas as respostas off-line e, depois de revisá-las, fazer a submissão final.

Eu classifico esse formulário como um ‘espanta preguiçoso’, porque só termina quem for perseverante. Por isso, enquanto eu estava me inscrevendo, pensava: se essa seleção é uma loteria, esse formulário certamente é um meio de enxugar a concorrência. E, desse modo, recuperava o fôlego para continuar adiante.

Então, aos interessados, não deixem suas inscrições para os últimos dias, mãos à obra!

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Longe de casa (em uma nova casa)!

Ravenna - Seattle, WA
Ser um Fulbrighter é abrir mão, por um período de tempo, do contato físico com a família e amigos. Sou muito apegada à minha família e amigos. Confesso que antes dessa aventura começar eu não sabia exatamente como seria ficar longe de todos eles de uma só vez. Ainda estou vivenciando essa sensação. Mas, hoje refleti um pouco sobre isso.

Tenho superado de forma bem mais tranquila do que imaginava, acho que hoje foi o dia em que a ficha caiu. Não estou passando apenas alguns dias em Seattle, WA e logo voltarei para casa. Não! Serão 10 meses longe de casa. Bem, relativamente longe de casa, pois, aqui também estabeleci um lar e o ciclo está começando novamente: nova casa, novos amigos, vizinhaos, universidade, tudo novo. Sentia muito receio de que esse novo se tornasse velho muito rápido e logo batesse aquela saudade do Brasil. A saudade já veio e virá muitas vezes, mas, acho que quando esse novo se tornar velho terei a mesma sensação de deixar algo para traz, novamente, porque estará na hora de voltar.

Por isso, fiquei pensando no quão privilegiados somos por termos tecnologias de informação e comunicação tão avançadas. Nós, os 25 Fulbrighters espalhados pelo Brasil e agora pelos Estados Unidos, comunicamo-nos diariamente para esclarecer dúvidas, contar histórias, compartilhar experiências, fotos, rir, etc. Da mesma forma, tenho me comunicado todos os dias com minha família e amigos (skype, whats app, facebook, facetime, etc) e, ainda que pela internet, a sensação é de que estamos muito perto. Como é que as pessoas viviam longe de casa apenas com telefone e pagando tarifas altíssimas (rsrsrs)?

Tudo isso mostra que precisamos aproveitar cada segundo dessa experiência única que nos foi proporcionada, mais do que isso, que nos foi confiada. Buscamos conhecimento e experiência cultural para compartilhar com os nossos quando voltarmos para o lugar que chamamos de casa. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Fight the Jet Lag

Fight the jet lag. Ou, em bom português, lutar contra os efeitos do fuso horário. Um dos primeiros desafios de qualquer brasileiro que decide viajar para fora, especialmente àqueles que seguem beeeem pro oeste ou beeeeem pro leste do meridiano. Esse é o meu caso. Há dois dias atrás, desembarquei na cidade de Honolulu, no estado do Hawaii: o destino de férias de pessoas do mundo inteiro que, já estaria sendo para mim um paraíso, não fosse sua localização há 12935 Km de Florianópolis (onde moro no Brasil). No relógio, essa distância toda se traduz em 7 horas de atraso. Isso mesmo. A noite brasileira é a minha tarde. Quando é manhã no Brasil, é madrugada por aqui. Uma hora da tarde em Floripa são 6 da manhã para mim. E por ai vai. Resultado: primeiro dia no Hawaii, não tive forças para lutar contra os efeitos do fuso horário (após 26 horas em trânsito) e dormi às 8 da noite. Acordei, faceira que só, às 3 da manhã daqui (10 da manhã em Floripa). Ouvi falar que aos poucos o corpo se acostuma e a rotina estrangeira toma conta do sono. Espero que logo. Enquanto isso, aproveito o silêncio da casa e escrevo posts e emails numa manhã quente de verão em Honolulu. Escrito por Priscila Fabiane Farias - Fulbrighter 2016 em Honolulu Hawaii